O que descobrimos 

  • A Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais entra em vigor em agosto do ano que vem.

  • Na Europa, quando entrou em vigor lei semelhante, foram criados cerca de 28 mil novos cargos.

  • Todas empresas que trabalham com dados de consumidores, sejam eles quais forem, terão que ter um “Data Protection Officer” (DPO), ou seja, o executivo responsável pela proteção de dados

  • O profissional terá que mesclar conhecimentos jurídicos com tecnologia da informação (TI)

  • A estimativa é que os salários desses profissionais podem chegar a R$ 50 mil mensais

Os seguidos escândalos de vazamentos de dados – o mais recente, em abril, expôs 540 milhões de dados pessoais de usuários do Facebook do mundo todo, sem qualquer tipo de senha – aceleraram mundo afora a criação de leis para proteger informações pessoais. No Brasil, a lei 13.709, sancionada em 2018, entra em vigor em agosto do ano que vem. 

Assim como aconteceu na Europa, que adotou diretrizes semelhantes no ano passado, a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais) brasileira vai mudar muita coisa. Em resumo, a LGPD determina que dados de pessoas no Brasil (brasileiras ou não) precisam de consentimento para serem usados ou armazenados. O dono do dado pessoal também deve ser comunicado sobre onde e para que sua informação será utilizada – e por quanto tempo. 

“Vai ser bom para o mercado ter regras. Hoje é uma festa da uva: as empresas coletam os dados que querem, indiscriminadamente”, explica Ingrid Imanishi, gerente de soluções avançadas da NICE Systems, que oferece soluções de software e de segurança de dados para outras companhias. 

Para os consumidores, será bem positivo: um levantamento feito pelo site Reclame Aqui com 9.627 pessoas mostrou que 88,6% se mostram preocupados com a forma que as marcas usam os dados pessoais fornecidos. 

Nova carreira

Mas vai ser bom também para o mercado de trabalho: a LGPD determina que todas as empresas tenham um “Data Protection Officer” (DPO), ou executivo responsável pela proteção de dados. “Esse é um ponto da lei que ainda falta regulamentação. A princípio, todas empresas que lidam com dados terão que ter uma pessoa responsável por eles. Mas não se sabe como vai ser isso para empresas pequenas, por exemplo”, explica Fábio Pereira, sócio da Veirano Advogados. 

Isso deve criar milhares de empregos e novos cargos dentro das companhias. Não há estimativas de quantos novos postos devem ser gerados no Brasil. Mas calcula-se que devam ser milhares, uma vez que um estudo feito pela International Association of Privacy Professionals (Associação Internacional de Profissionais de Privacidade) prevê que 75 mil novos postos de trabalho sejam criados no mundo todo com a implantação de regras como a europeia GDPR (General Data Protection Regulation) e a LGPD. Só na Europa, são 28 mil DPOs. 

Por aqui, só 15% das empresas, segundo um levantamento feito pela Serasa Experian, estão se preparando para se adequar à nova legislação. “Por enquanto, só grandes empresas, bancos e companhias dos setores hospitalar e farmacêutico parecem estar mais preocupadas. Mas todo mundo vai ter que se adequar”, diz Pereira. 

Quem não se enquadrar, vai ter que arcar com uma multa pesadíssima, capaz de inviabilizar muitos negócios: 2% do faturamento da empresa, limitados a R$ 50 milhões, no caso de infração. 

No Carrefour, por exemplo, a preparação começou com antecedência, quando a matriz francesa já se preparava para se alinhar à GDPR. “Aqui, criamos um grupo multidisciplinar, com profissionais do setor jurídico, de tecnologia e de segurança da informação”, explica Ana Hieaux, diretora jurídica do Carrefour. 

Na Globo, também já se criou uma equipe para gerenciar dados que a emissora coleta por meio de programas como BBB, The Voice e aplicativos, como GloboPlay e Cartola. 

Outra empresa que já se preparou é a Serasa, que também já criou uma equipe de LGPD.

Muitas organizações vão contratar e outras vão aumentar a carga de trabalho dos funcionários de tecnologia e do jurídico, diz Ingrid Imanishi. 

Nova mosca branca

O fato é que esse novo profissional, segundo Luana Castro gerente da área de TI da consultoria de recursos humanos Michael Page, vai ser a nova mosca branca do mercado. “Já está difícil achar profissionais de TI. Um profissional que tenha conhecimentos de tecnologia e da lei, será ainda mais raro”, diz ela. 

Por isso, os potenciais ganhos desse novo profissional são bem promissores. Nas expectativas mais baixas, ele deve ter remuneração de 15% a 20% maior que as dos atuais profissionais de tecnologia. “Mas, historicamente, toda vez que surge uma nova tecnologia, os salários para quem domina essa nova fronteira pode crescer até 40%, diz Luana. 

O vice-presidente da consultoria de negócios e tecnologia Cosin Consulting, Antonio Cipriano aposta em salários que irão de R$ 20 mil a R$ 50 mil. Além de abrir novas vagas dentro das empresas, a LGPD vai representar oportunidade para consultores, que poderão atender a companhias menores. 

“As empresas vão ter que mapear todos os dados que têm, de onde eles vêm e o que fazem com eles. Esse vai ser um dos papéis desses novos profissionais. Vai ser preciso ter uma gerência de dados. E prevenir vazamentos. E as companhias também terão que estar prontas para fornecer os dados pessoais de um cliente quando ele solicitar”, explica Cipriano. 

“Por isso, não é uma coisa de momento que vai ser necessária somente na época da implantação da lei. A gerência de dados vai se tornar um novo departamento dentro das corporações”, diz Ana, do Carrefour. 

Como na época da ISO

O impacto da LGPD no mercado de trabalho, segundo Cirpriano, vai ser semelhante ao provocado pelas certificações ISSO 9000 (normas técnicas de qualidade) no final dos anos 90. A lei não exige cursos específicos, mas quem tiver certificação em LGPD pode se dar muito bem no mercado, segundo a executiva da Michael Page. “Esse é o momento certo para buscar formação, uma vez que as empresas vão precisar muito desses profissionais no ano que vem”, afirma. 

Uma das instituições que oferecem essa certificação é a holandesa Exin, que faz as provas e os cursos de formação na área. Para ter o certificado completo, é preciso ter aprovação mínima de 65% em três testes, feitos online, segundo Milena Andrade, diretora regional da Exin Brasil. Os cursos variam de 8 horas a 24 horas de aula. Os preços de cada prova (incluindo as aulas) vão de R$ 690 a R$ 1.100.

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