A China tem se firmado como um centro dinâmico de inovação e de iniciativas que tem contribuído, segundo o Banco Mundial, com cerca de 30% do crescimento global nos últimos oito anos. A China deixou de ser um país exportador de mercadorias baratas para se tornar desenvolvedor de produtos de alta tecnologia e, também, criador de tendências e conceitos que impactam o nosso cotidiano e o modo como vemos o mundo. 

A política de reforma e abertura, iniciada há 40 anos, levou investimentos estrangeiros para a China e impulsionou o seu desenvolvimento. Agora o sinal se inverteu: é o mundo que busca atrair os investimentos chineses que estão promovendo o desenvolvimento global. Um projeto arrojado e potencialmente transformador de toda a Ásia, com repercussões positivas para outros continentes, está no cerne deste novo tempo. Trata-se da Iniciativa Cinturão e Rota — expressão que se refere ao “Cinturão Econômico da Rota da Seda” e à “Rota da Seda Marítima do Século XXI”, ambos inspirados na antiga Rota da Seda, conectando a Ásia, a Europa e a África por meio de corredores econômicos e trocas culturais. 

Tal iniciativa tem como objetivo a conectividade real dos países envolvidos por meio de uma infraestrutura abrangente centrada em ferrovias, estradas, transporte marítimo, aviação e redes de informação integradas, além do livre fluxo do comércio, da integração financeira, do intercâmbio entre os povos e da coordenação de políticas dos Estados participantes de modo a ajustar a implementação dos projetos às especificidades e necessidades de cada país. Além disso, diferentemente de esquemas de cooperação econômica que se limitam a reduzir barreiras tarifárias e não tarifárias, e não dispõem de recursos financeiros para investir na integração real dos países, a Iniciativa Cinturão e Rota conta com um aporte de US$ 40 bilhões do Fundo da Rota da Seda e com o apoio do Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (BAII), cujos empréstimos totais já chegaram a US$ 8.5 bilhões. O BAII é um banco multilateral de desenvolvimento que foi lançado pelo presidente chinês, Xi Jinping, em 2013, inaugurado em 2016 e formado por mais de 70 países, dentre eles a Alemanha, a França, a Itália, Portugal, Espanha e Reino Unido. 

Em 2018, durante a Segunda Reunião Ministerial do Fórum China-América Latina e Caribe, Xi Jinping convidou os países latino-americanos a participarem do Cinturão e Rota. Há quem tivesse visto essa proposta com ceticismo em razão da distância geográfica, como se o Cinturão e Rota fosse a promessa de um horizonte muito distante. Entretanto, a China já é o primeiro ou segundo maior parceiro comercial da maioria dos países da América Latina e um dos seus maiores investidores, inclusive do Brasil. Desde esse ponto de vista, a Iniciativa Cinturão e Rota não é uma promessa, mas um projeto em curso que precisa ser compreendido para que dele possamos extrair melhores benefícios. 

Neste ano de 2019, o governo chinês realizou o 2º Fórum Cinturão e Rota de Cooperação Internacional visando ampliar a discussão e a participação dos países nessa iniciativa. O Brasil não enviou representantes e nem assinou nenhum termo de cooperação, ao contrário de outros países sul-americanos como o Chile, a Bolívia, o Uruguai e a Venezuela. A distância torna-se maior quando não se compreende o mapa. É preciso estar no Cinturão e Rota para nele sabermos fazer o nosso caminho.

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