Mesmo em meio à incerteza, gestores globais de fundos devem olhar para a Ásia para buscar oportunidades em acordos privados, buyouts e débitos privados.

O mercado privado da Ásia-Pacífico atraiu USD117 bilhões em fluxo interno de capital líquido em 2019, guiados predominantemente por private equity onde os fundos atingiram USD94 bilhões, de acordo com a McKinsey's Private Markets Review 2020.

Isto representou uma redução de 25% em relação ao ano anterior, impulsionada principalmente pelo real estate fechado, que encerrou 2019 com modestos USD13 bilhões em fundos levantados; uma redução de 39% em relação a 2018.

A grande questão para a região agora, entre os grupos de investimento globais, é onde podem residir as oportunidades de valor estratégicas tendo em vista a redução de valores de mercado causadas pela COVID-19. É preciso apenas olhar para os preços do petróleo ingressando no território negativo e atingindo os menores níveis em 25 anos, para compreender a escala macro do cenário negativo.

Compreensivelmente, isto impactou os níveis de confiança nos mercados, à medida em que investidores institucionais lutam para gerenciar seus portfolios.

"Os governos em cada país estão lutando para vencer isto, e espera-se ver uma luz no fim do túnel em breve. Mas ainda não se sabe quanto tempo isso demorará," diz Rajindar Singh, Head de Serviços para Fundos da TMF Group, localizado no escritório de Singapura da empresa.

Oportunidades de negócios em e-commerce

Singh observa que em um continente tão populoso – a Ásia abriga 4,6 bilhões de pessoas – o resultado do lockdown levou a uma grande mudança em relação à utilização do e-commerce.

Isto pode significar uma aceleração da tendência atual e, assim, apresentar oportunidades de investimento para gestores de fundos globais, "e especialmente, como isso se relaciona à gestão da logística da cadeia de suprimentos," afirma Singh. "Nós podemos ver bem as diferentes dinâmicas nesta área para o futuro. A Índia, por exemplo, já observou um grande investimento em logística, à medida em que continua a construir uma variedade de grandes projetos de infraestrutura de logística e industriais."

De acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), a participação da China no valor de transações de varejo via e-commerce global subiu para mais de 40% hoje, comparados com menos de 1% uma década atrás. Os 12% de vendas de varejo que ocorrem via e-commerce na Ásia ultrapassam as parcelas correspondentes de 8% na Europa Ocidental e América do Norte. Índia, China e Indonésia, por exemplo, lideram o mundo no crescimento de vendas online, e ainda assim menos de 50% da população da APAC está online. Fundos que invistam nas empresas certas de e-commerce podem se beneficiar muito de uma nova onda de crescimento no e-commerce ao longo da próxima década.

"A inovação na Ásia está em alta em termos de Fintechs, o que pode aumentar o interesse de gestores globais de ativos," comenta Patrice Lo, Diretora Comercial de Serviços para Fundos na TMF Group. "No geral, a população da maioria dos países asiáticos é bastante jovem. Se você olhar para a quantidade de pagamentos via celulares, por exemplo, ela excede muito o que você vê em países desenvolvidos. Índia e China abriram caminho e houve uma melhora real para Fintechs. Muitas grandes empresas multinacionais de tecnologia têm uma presença significativa em toda a Ásia, e isto ajudou a construir uma infraestrutura robusta. Então, eu acho que esta tendência de Fintechs é algo no qual os investidores prestarão atenção ao longo dos próximos meses e além."

A fim de apoiar investidores e gestores de fundos, a TMF Group é uma das únicas provedoras que presta serviços a estruturas de investimento e ativos em toda a região, com 28 escritórios em 15 países, oferecendo um conjunto holístico de serviços para a administração de entidades, enquanto também presta serviços de administração de fundos em Singapura, Mumbai, Shanghai, Hong Kong e Sidney.

Faça acordos privados

A Ásia-Pacífico vem amadurecendo bastante ao longo da última década, com retornos e entradas de capitais ingressando nos mercados de capitais da região. Este crescimento não é necessariamente verdadeiro para seus mercados privados, onde o levantamento de fundos vem diminuindo nos últimos dois anos. Isto pode se dever ao alto nível de liquidez disponível para alocação, os quais totalizaram USD419 bilhões no fim de 2019.

"Se você olhar para alguns dos maiores fundos como CVC, Blackstone e Soft Bank, eles acumularam muita liquidez ao longo dos últimos dois anos," comenta Lo. "Ao longo dos próximos trimestres, esperamos que as coisas comecem a se estabilizar e isto pode apresentar boas oportunidades para gestores de ativos encontrarem retorno; especialmente com a redução das valuations."

"Houveram conversas recentes sobre a Soho China, a desenvolvedora de construção chinesa, ser privatizada. Podemos ver mais acordos de privatização acontecendo no mercado dada a situação atual."

Singh acredita que se acordos privados começarem realmente a aumentar, em resposta ao aumento na atividade de M&A, outro setor de interesse para fundos pode ser o setor de cuidados com a saúde na Ásia.

"Gestores de fundos olharão para o setor de cuidados com a saúde na Ásia não só no nível micro, mas também no macro. A energia limpa também seria um tema de investimentos na região."

Uma palavra de cuidado para gestores de fundos – sejam domésticos ou globais, que estejam buscando colocar os USD419 bilhões para trabalhar, é que a competição por acordos pode ser desafiadora.

Singh destaca que em mercados estabelecidos como Japão, houve um interesse significativo de gestores de fundos de real estate nos setores logístico e residencial, aplicando sua própria expertise para gerenciar desenvolvimentos em larga escala. Na China, ao longo dos últimos 15 a 20 anos, houve um grande desenvolvimento de real estate, mas no futuro pode haver a possibilidade de buscar oportunidades em startups de tecnologia, fintechs e farmacêuticas.

"A Índia ainda está um pouco atrás", ele comenta. "Fundos de pensão estão buscando oportunidades de investimento em hospitalidade, logística e indústrias, além de seus fundos de investimentos mistos. E no sudeste da Ásia, países como Malásia estão focando no desenvolvimento integrado de infraestrutura e logística."

Aumento na atividade de buyout na Ásia...?

GPs (gestores) estão utilizando o período de cessão causado pela Covid-19 para elaborar estratégias e se preparar para seguir com seus objetivos de investimentos para LPs (investidores) quando houver um período de calma no mercado. Durante a crise financeira global de 2008, diversos gestores de investimentos não sobreviveram devido a questões de liquidez e os maiores investidores saíram ganhando. Um período similar de consolidação pode acontecer novamente, e alguns fundos menores podem ser absorvidos por grandes grupos.

A situação oferece o potencial para uma maior atividade de buyout na região, que ainda está posicionada substancialmente atrás dos EUA e Europa. Tradicionalmente, a atividade de private equity foi centrada em VC (venture capital) e investimento em crescimento, fazendo mais de USD800 bilhões em AUM, comparados com USD238 bilhões em buyouts; isto certamente vai mudar em algum momento.

"Sob as condições certas, podemos ver uma aceleração na atividade de buyout na Ásia, relativamente aos EUA e Europa que têm mercados estabelecidos à muito tempo," sugere Singh.

"A atividade de M&A na Ásia não foi tão grande, mas eu acho que agora haverá muitas oportunidades em termos da queda que vimos na valorização de mercados. Especialmente no setor de saúde, onde podem haver oportunidades para consolidações na região. Outros setores que podem ver um aumento na atividade de M&A são as indústrias de aviação e transporte de cargas. Diversas empresas de transporte asiáticas foram fundadas historicamente por grupos privados, mas alguns podem buscar alterar a estratégia para o capital de private equity."

Lo adiciona que "na TMF Group, estamos nos preparando internamente para apoiar um fluxo maior de acordos de M&A com nossos times globalmente."

Cenário de débitos privados

Uma outra área onde é possível encontrar valor na APAC está relacionada aos débitos privados, onde oportunidades de débitos de auxílio podem ser significativas dadas as dificuldades da economia.

Lo explica que ainda que as médias de retornos para fundos de débitos privados tenham sido baixas nos últimos anos, em comparação com fundos de private equity ou real estate, os investidores ainda estão satisfeitos. É fato que, de acordo com o relatório Alternative Assets Investor Outlook H12020 da Preqin, somente 11% dos investidores pesquisados em novembro de 2019 disseram que estavam desapontados com seus portfólios de débitos privados.

"Tudo depende das expectativas do investidor individualmente, e encontrar as oportunidades certas no mercado. No ambiente atual, os investidores estão buscando maneiras de aplicar seus capitais de maneira efetiva; especialmente na Europa, onde investidores têm que lidar com taxas negativas de juros."

"Eu acredito que os investidores globais olharão para a região para ver se há boas oportunidades de ativos com dificuldades. Esperamos crescer nossos negócios de débitos privados ao longo dos próximos 12 a 24 meses," declara Lo.

Débitos privados foram um ponto de destaque para região da APAC no ano passado, crescendo 23% de acordo com um relatório da McKinsey.

Setores como o de aviação devem ser o alvo de investidores de débitos privados, com frotas aéreas em todo o mundo literalmente estacionadas. Isto colocará uma grande pressão financeira sobre linhas aéreas.

"Por exemplo, algumas das maiores linhas aéreas desta região, que foram severamente afetadas pelo ambiente atual estão pensando em maneiras de levantar novos capitais por meio de questões de direitos, títulos conversíveis, etc. isto depende de quanto tempo a recuperação levará, mas pode apresentar uma oportunidade para fundos de débitos privados ingressarem, assim como bancos internacionais, oferecendo financiamentos no mercado de capitais."

"Podemos observar uma maior atração de débitos privados para apoiar a indústria da aviação," conclui Singh.