O investimento em ASG (Ambiental, Social e Governança) continua a ganhar impacto e proeminência entre investidores globais institucionais, à medida em que buscam divulgar não só a performance dos fundos em seus portfólios, mas também o impacto que têm sobre o mundo.

Fundos mútuos e ETFs com foco em sustentabilidade atraíram USD 20,6 bilhões líquidos em 2019, quatro vezes mais do que os USD 5,5 bilhões levantados em 2018, de acordo com a Morningstar. Em mercados privados, no entanto, ainda há espaço para melhorias, com uma estimativa de apenas um terço dos fundos de private equity se comprometerem com os Princípios de Investimento Responsável (PIR) da ONU.

Uma pesquisa recente conduzida pela Aberdeen Standard Investments observou que a América do Norte continua atrás da Europa e Ásia-Pacífico. Merrick McKay, Head do private equity europeu na ASI comenta: "A tendência geral sugere que fundos de private equity estão dando cada vez mais importância à ASG, com fundos baseados na Europa liderando o caminho. Ele adiciona: "Estamos otimistas observando os resultados de fundos baseados na Ásia-Pacífico, com uma variedade de respondentes tendo implementado iniciativas no último ano para melhorar a performance de ASG".

Com o CEO da BlackRock, Larry Fink, sugerindo que a mudança no clima tem sido um 'fator definidor nos prospectos a longo prazo de empresas', é provável que investimentos em ASG possam se tornar uma grande tendência em mercados privados ao longo da próxima década, à medida em que participantes de mercados privados adotam métricas de ASG em suas estratégias de investimentos.

Há três principais razões para explicar esta tendência de crescimento em ASG.

1. Expectativas de investidores

Alocadores estão se tornando mais demandantes e querem receber evidencias de políticas de ASG e como elas estão sendo implementadas. Ter uma política estabelecida não deve ser visto por gestores como um simples exercício de terminar uma coisa na lista de tarefas; os investidores querem entender como elas estão estabelecendo métricas de ASG na avaliação de performance de portfólio da empresa, o nível de engajamento que têm com times de gestão em questões de ASG, e assim por diante.

Gestores que possam demonstrar um comprometimento com ASG estão começando a ser vistos de maneira mais favorável por investidores, e isto está ajudando a melhorar seu perfil no cenário global.

Mas a pesquisa da ASI, no que tange o assunto acima, observou que há diferenças regionais em relação à adoção de gestores.

"Eu argumentaria que o Reino Unido e a UE estão um pouco acima da curva em termos de gestores de ativos adotando fatores de ASG em suas estratégias de investimentos, em comparação com a Ásia", comenta Seamus Fox, Diretor Comercial da TMF Hong Kong.

"No entanto, gestores baseados na Ásia-pacífico estão cada vez mais levando em conta questões de ASG porque há uma pressão maior entre os alocadores, especialmente de investidores que são mais socialmente conscientes e envolvidos no espaço ativista".

O Leste da Ásia, ele afirma, está provavelmente um pouco atrasado quando se trata da adoção de ASG, "mas quando você olha para Hong Kong e China, alguns dos maiores gestores de ativos estão estabelecendo seus próprios KPIs e implementando estratégias de ASG mais específicas. Diversos grandes gestores de ativos chineses se tornaram signatários da PIR da ONU".

Mais de metade dos dez principais gestores de fundos da China se tornaram signatários da PIR e o interesse se espalhou para braços de private equity e gestão de ativos de bancos, de acordo com o site de PIR da ONU.

Em setembro de 2019, a seguradora chinesa China Ping An se tornou a primeira signatária possuidora de ativos, que a PIR da ONU destacou como "uma mudança significativa no cenário de ASG na China e além". O site prosseguiu que até aquele momento, a maior parte das demandas de integração de ASG na China tinham vindo de investidores internacionais, "combinados com o 'empurrão' politicamente obrigatório da China na direção de um desenvolvimento mais verde e de alta qualidade sustentável". 

"Eu estava falando recentemente com um grande alocador e ele estava implementando medidas para garantir que uma porcentagem de sua alocação de portfólio fosse para investimentos de impacto", explica Fox. "O motivo foi que havia interesse de investidores do seu lado, e se eles motivassem uma agenda de ativismo social e finanças sustentáveis, teriam uma resposta favorável em termos dos tipos de investimentos selecionados. Investidores querem saber exatamente como seu dinheiro está sendo gerido".

"Para gestores de fundos na Ásia, o valor de acertar nisso é que se abrem mais portas para o levantamento de recursos, em comparação com aqueles que não têm ASG como parte de sua estratégia. Os gestores que têm um histórico comprovado de governança corporativa são bem vistos no mercado".

Ainda há trabalho a ser feito em relação a como gestores da Ásia podem pensar sobre implementar boas práticas baseadas em seus companheiros na Europa. É mais uma questão de orientação do que qualquer outra coisa.

"Já que a TMF Group tem uma grande presença global, podemos orientar nossos clientes não só em relação ao que acontece na Ásia, mas também na América do Norte e Europa. Em certas jurisdições onde não há muita orientação, tentamos compartilhar com clientes o que seus colegas estão fazendo em outras partes do mundo", afirma Fox. Ele confirma que cada vez mais fundos dedicados à ASG estão sendo lançados por gestores na região, bem como a alteração de produtos de fundos existentes para melhorar suas credenciais de ASG.

"A única maneira pela qual você pode realmente ser visto promovendo questões de ASG é elaborando produtos de fundos específicos de ASG. Alguns gestores estão abrindo fundos de investimento de impacto e isto é algo que estamos definitivamente observando cada vez mais, especialmente entre gestores asiáticos que desejam se expandir para a Europa", confirma Fox.

2. Regulação

Em 10 de março de 2021, gestores de ativos precisarão estar em compliance com a Regulação de Declarações da UE, que é parte do comprometimento alongo prazo da Europa para atingir suas metas de mudanças climáticas e incentivar o crescimento de finanças sustentáveis. O propósito da Regulação de Declarações é trazer uma maior transparência sobre como gestores de ativos europeus integram riscos de sustentabilidade em seus processos de investimentos e apresentam estes riscos para seus investidores finais.

O Reino Unido deve adotar estes novos requerimentos de declarações, mesmo que o período de transição deva terminar em dezembro de 2020 e o Reino Unido não será mais ligado às leis da UE. O país também está se comprometendo com a melhoria da transparência e relatórios de ASG, tendo introduzido no ano passado a Estratégia de Finanças Verdes, que espera que todas as empresas listadas e grandes proprietários de ativos façam declarações em linha com as recomendações da Financial Stability Board's Task Force sobre Declarações Financeiras relacionadas ao clima (TCFD) até 2022.

Na Ásia, Hong Kong assumiu uma postura proativa. Sua reguladora financeira, a Hong Kong Exchange (HKEX), se moveu rapidamente para melhorar as regulações de ASG e foram introduzidos novos requerimentos obrigatórios de declarações que passaram a valer em 1 de julho de 2020.

Sob estas novas regras, empresas precisarão oferecer uma declaração assinada pelo Conselho afirmando sua consideração de questões de ASG; declaração de questões relevantes relacionadas ao clima que impactaram e podem impactar a empresa; obrigação de declaração de compliance com o ASG ou explicar os principais indicadores de performance, e relatórios publicados de ASG em até 5 meses após o fim do ano fiscal.

"Hong Kong está buscando se alinhar com requerimentos globais de ASG. A HKEX mudou suas regras e as tornou muito mais rigorosas, e também está incentivando que conselhos de diretores arrumam responsabilidades de relatórios. A orientação que está sendo oferecida a gestores em Hong Kong está em grande alinhamento com os Princípios de Investimento Responsável e é isso que as pessoas estão seguindo mais de perto", afirma Fox.

Para participantes do mercado privado global, este ambiente regulatório em mudança está os fazendo pensar sobre fatores de ASG mais atentamente que nunca.

3. Performance

Um terceiro motivador para o crescimento da adoção de ASG entre gestores de fundos de mercados privados é o valor associado com performance. Há cada vez mais evidências de que o investimento sustentável em empresas com altas credenciais de ASG não só permite que os gestores demonstrem seu comprometimento em ter um impacto positivo, mas também leva a melhores resultados financeiros. Investidores não querem alocar capital e não receber um bom retorno, eles o querem em conjunto com um impacto real que possa ser monitorado, divulgado e quantificado pelo gestor.

De acordo com a Global Impact Investing Network's Annual Impact Investor Survey 2018, os ativos totais sob gestão em fundos de investimento de impacto social (SII) eram de USD 228,1 bilhões, 56% do que foi alocado para mercados emergentes.

O último relatório da Morningstar 'Como está a performance de fundos sustentáveis na Europa?' afirma que a amostra pesquisada demonstra que o investimento sustentável tem um impacto positivo sobre a performance.

Isto é bom em mercados públicos, mas medir a performance de produtos de fundos sustentáveis continua sendo desafiador em mercados privados porque os dados são fragmentados e ainda não há uma estrutura padronizada de relatórios com a qual donos de ativos precisam estar em compliance.

Curiosamente, todo o debate em relação à performance foi colocado em grande foco nos últimos meses em resposta à pandemia global causada pela COVID-19.

De acordo com dados da Refinitiv, empresas no índice FTSE UK 100 ESG Select – que é composto pelas 100 principais empresas listadas no Reino Unido com fortes práticas de ASG – teve uma melhor performance que o FTSE 100 desde que as vendas no mercado começaram em 21 de fevereiro.

"Na Ásia eu diria que há uma indústria muito orientada pelos alfas", afirma Fox. "A performance sempre esteve no centro das mentes das pessoas, e se elas conseguem acessar fundos de bom desempenho com um claro componente de ASG na estratégia, esta é uma situação 'win-win' para elas. Há fundos de impacto que são menos orientados por alfas e sacrificarão alfas para atingir seus objetivos de ASG – mas para os gestores dos maiores fundos, a geração alfa ainda é um fator crucial".

Investindo em indústrias de alto crescimento, como a de processamento de alimentos e a de reciclagem, ou energias renováveis, gestores de fundos privados são capazes de construir a longo prazo e melhorar as valorizações. Isto tem a ver com entregar um forte IRR, no nível do fundo ao invés de fazê-lo por propósitos altruístas.

Olhando para o futuro, é provável que o impacto que a COVID-19 teve sobre como pensamos sobre o meio ambiente – em termos de viagens internacionais e diminuição de emissões de carbono – acelerará o investimento em ASG ainda mais do que antes.

"A COVID-19 pode impactar o investimento em infraestrutura e acelerar o avanço em direção a carros e rodovias elétricas, o que por sua vez reduzirá as emissões de carbono e melhorará a qualidade do ar em cidades asiáticas. As pessoas não percebem o quão grave é o problema até que ele desapareça - e isso é algo que as pessoas notaram nos últimos meses ", conclui Fox.

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Este artigo foi publicado originalmente na Private Equity Wire

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