Timo Hirte, Diretor Comercial de Serviços para Fundos na TMF Group, comenta para a Private Equity Wire que clientes estão se preparando para lançar novos veículos de fundos – primariamente a partir de Luxemburgo – a fim de capitalizar sobre a revolução de energia renovável na Europa.

Quando se trata de encontrar valor na Europa, fundos de private equity têm um vasto mosaico de oportunidades de investimentos a serem considerados, dadas as diferenças jurisdicionais, regulatórias e de mercados entre os 27 Estados membros da União Europeia (que agora não incluem o Reino Unido).

Para investidores de private equity, uma das maneiras que deve ser considerada para acessar valor está acontecendo no setor de energias renováveis na Europa, que se liga ao European Green Deal (Acordo Verde Europeu); uma iniciativa ambiciosa que busca fazer a transição da UE para uma economia de baixa emissão de carbono. Um dos principais objetivos do Green Deal é atingir zero emissões de carbono na União até 2050 e uma redução de 50-55% em emissões até 2030.

A escala da ambição é tão grande que a presidente da comissão Europeia, Ursula com der Leyen se referiu a ela como o “momento europeu de colocar o homem na Lua”.

Parte do plano para ajudar a UE a atingir estas metas e redução de emissão de carbono, conforme estabelecido de maneira mais geral sob o Acordo de Pais durante a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), foi a introdução da Diretiva de Energias Renováveis. Em resumo, isto estabelece uma nova meta para a UE de atender pelo menos 32% de suas necessidades energéticas de fontes renováveis até 2030.

O resultado disto é que a Europa requererá investimentos significativos em infraestrutura ao longo da próxima década, e pode apresentar uma variedade de oportunidades para fundos de PE financiarem empresas de energias renováveis.

“Precisamos de mais investimentos no setor de energias renováveis para cumprir o Acordo de Pais com o qual os Estados membros europeus se comprometeram”, afirma Timo Hirte, Diretor Comercial de Serviços para Fundos na TMF Group (Alemanha).

Estima-se que investimentos globais no setor de energia renovável devam aumentar para USD 3,4 trilhões até 2030, incluindo um investimento previsto de USD 2,72 trilhões nos setores de energia solar e eólica, de acordo com a última análise de pesquisa da Frost & Sullivan.

Estes números são significativos, mas onde podem haver oportunidades de investimento?

De acordo com um relatório pela International Renewable Energy Agency (IRENA), soluções de aquecimento e resfriamento compõem mais de um terço do potencial de energias renováveis não exploradas na UE. Eles sugerem que a biomassa continuará sendo uma fonte importante de energia renovável além de 2030, e em relação ao transporte, veículos elétricos (incluindo a construção de rodovias elétricas) serão necessários para cumprir os objetivos de descarbonização da UE a longo prazo.

Na Alemanha, os investimentos em energias renováveis foram reduzidos devido ao ambiente regulatório e dificuldades com a aprovação de infraestruturas.

“Por exemplo, as cortes alemãs estão impedindo a construção de infraestruturas para o movimento de energias de fazendas eólicas offshore para a parte sul do país”, afirma Hirte. “As pessoas querem ver o aumento do uso de energias verdes e reconhecem a necessidade de implementar linhas de energia, mas a atitude parece ser uma de ‘Não no meu quintal, faça isso em outro lugar'”.

“É necessário haver mais interação entre os Estados membros da UE para trazer energias verdes para áreas onde ela é mais necessária. Ainda há muito espaço para investimento, e necessidade de investimento, e eu espero que os Estados membros da UE incentivarão investidores de mercados privados. Se isto não acontecer, a Europa não atingirá seus objetivos do Green Deal”.

Hirte confirma que alguns dos clientes da TMF Group estão se preparando para lançar novos veículos de fundos, primariamente saindo de Luxemburgo, para capitalizar sobre a revolução de energias renováveis.

“Um dos meus clientes está se preparando para lançar a próxima fase de seu fundo de energia, que foi atrasado no início do ano devido à COVID-19. Também estamos ocupados fazendo o onboarding de diversos fundos de débitos de infraestrutura”, ele comenta.

Pensando em um exemplo específico, uma das maiores fazendas eólicas na Áustria está sendo construída em Burgenland, que deve ser completada até o fim de 2021. O local terá uma capacidade de 143 MW e atenderá as necessidades energéticas de 90.000 casas. Ela será gerida pelo PÜSPÖK Group, uma empresa familiar baseada em Burgenland.

A fim de destacar a atual demanda de investidores por energias renováveis, o Foresight Group, um gestor independente de investimento de infraestrutura e private equity, recentemente realizou o segundo investimento pelo Foresight Energy Infrastructure Partners (FEIP), em duas fazendas eólicas operacionais localizadas na região de Castilla y León na Espanha.

Isto representa a segunda aquisição da Foresight de subsidiárias da wpd AG (“wpd”), uma das principais desenvolvedoras e operadoras de energia eólica da Europa, seguindo a aquisição de um portfólio eólico alemão de 50 MW em dezembro de 2018.

Richard Thompson, Sócio da Foresight e Co-Gestor da FEIP, afirmou: “Nós planejamos assegurar uma verificação independente pela Taxonomia da UE para este portfólio que fará uma contribuição visível para o objetivo da UE de emissão zero até 2050”.

Hirte acredita que estruturas de débitos privados continuarão a ser uma tendência chave de investimentos na Europa nos próximos anos.

“Há cada vez mais estruturas de débitos sendo estabelecidas. É uma tendência que estamos vendo na Europa há alguns anos, à medida em que bancos reduzem seus empréstimos. Gestores de ativos buscaram preencher esta brecha de fundos desde a crise financeira de 2008”.

“Eu acredito que continuaremos vendo estes veículos de débitos privados chegando no mercado”, sugere Hirte.

Schroders acabou de levantar EUR 312 milhões para o fechamento inicial de seu segundo fundo de débitos de infraestrutura pan-europeu. Eles estão buscando levantar EUR 750 milhões no total.

O Schroder Euro Enhanced Infrastructure Debt Fund II (Julie II) é gerenciado pela Schroder Aida, uma subsidiária financeira especializada em infraestrutura lançada pela Schroders em 2015. “Continuaremos a ver oportunidades de investimento empolgantes no espaço da grade de sub-investimentos em débitos de infraestrutura e esperamos lançar este segundo fundo de maneira tão eficiente quanto o primeiro”, comenta Augustin Segard, Head de Débitos de Infraestrutura Melhorados e Gestor de Fundos.

Para aqueles que estão buscando investir na transição da Europa para energias verdes, Luxemburgo continua sendo melhor jurisdição. Uma grande variedade de gestores globais de ativos enxerga o Grão-ducado como seu centro europeu para a distribuição internacional de fundos.

“Estamos observando muitas casas de private equity dos EUA utilizando Sociedades Limitadas Especiais (SCSp)”, declara Hirte. “A maneira que os SCSps foram desenhados é muito similar ao que gestores dos EUA estão acostumados com uma estrutura de Cayman/Delaware; ela é baseada na estrutura de LP anglo-saxônica. O gestor pode combinar as vantagens da SCSp, de uma perspectiva de estruturação legal, com a Reserved AIF, de uma perspectiva de estruturação de fundos”.

O universo de fundos de Luxemburgo é bem representado, oferecendo uma variedade de opções regulamentadas e não regulamentadas.

O Specialised Investment Fund (SIF) é um fundo em completo compliance com a AIFMD, requerendo um depositário independente e uma licença de aprovação da CSSF, o regulador financeiro de Luxemburgo. Como tal, isto introduz uma camada dupla de regulações, impactando gestores tanto no nível da AIFM quanto no nível do Fundo.

“No entanto, no que diz respeito à RAIF, Luxemburgo faz exatamente o que a AIFMD quer, que é simplesmente supervisionar as atividades do gestor. A RAIF em si não é regulamentada. Desde que você tenha um AIFM aprovado gerenciado o fundo, já se cumpre a parte da regulação de fundos, o que permite um tempo mais rápido de entrada no mercado. Você não precisa esperar pela aprovação do CSSF antes de fazer o marketing do fundo”, diz Hirte. 

Nesta visão, Luxemburgo fez um bom trabalho na criação de um ambiente flexível para fundos para gestores de fundos internacionais.

“Tudo começou com o fundo UCITS, mas o SIF também é reconhecido agora no mundo inteiro. O legislador também demonstrou que é flexível. Quando a AIFMD foi introduzida inicialmente, o legislador de Luxemburgo criou a RAIF, a SCSp. Eles sempre foram capazes de se adaptar a novas regulações muito rapidamente”.

“A jurisdição foi capaz de atrair muita expertise. Há uma grande fonte de talentos qualificados e internacionais trabalhando em Luxemburgo”.

“Também há uma infraestrutura de provedores de serviços bem estabelecida, que foi construída ao longo de três décadas para apoiar as atividades de gestores de fundos”, explica Hirte.

Com todos os blocos fundamentais legais, de provedores de serviços e fundos estabelecidos, Luxemburgo está bem posicionado para apoiar grupos de fundos privados à medida em que buscam valores na Europa na próxima década.

Atrair participantes de mercados privados serão uma chave para a Europa cumprir sua missão Apollo 11 e tornar realidade suas ambições de colocar o homem na Lua.

Originally published by Private Equity Wire.

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